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João Diogo Juzarte Sequeira Sameiro (1792-1865)

João Diogo Juzarte Sequeira Sameiro, fundador do Asilo de Nossa Senhora da Esperança, em Castelo de Vide, descendendo de uma nobre e abastada família, nasceu nesta vila a 23 de Outubro de 1792 na Carreira de Baixo, hoje Praça D. Pedro V, freguesia de S. João Baptista, filho de Manuel Dionísio Carrilho de Sequeira e de Joana Catarina Xavier da Costa Juzarte.

Baptizado pelo seu tio Frei José Godinho de Carvalho, teve como padrinhos o avô materno, o Desembargador João Pedro de Carvalho e Nossa Senhora do Pé da Cruz, tocando com a coroa seu tio João Pedro de Carvalho Sameiro.

Seu pai, desembargador Professo na Ordem de Cristo e chanceler da Relação e Casa do Porto, exerceu várias funções na governança da vila e na Santa Casa da Misericórdia, como consta do importante arquivo desta secular instituição. Provindo de antigas famílias de Castelo de Vide, sétimo neto, por linha varonil directa de Diogo Alfonso de Sequeira (séc. XVII), casou com Inês Rita Xavier da Costa, de quem houve dezoito filhos, dos quais apenas seis lhe sobreviveram. Destes seis, João Diogo Juzarte Sequeira Sameiro, cuja personalidade aqui se destaca, por morte do pai, falecido aos 75 anos, como filho segundo sucedeu na posse da importante e vinculada casa, uma vez que o primogénito a quem cabia o morgadio já havia falecido.

Os avós de João Diogo eram, por parte do pai, Manuel Pedro de Sequeira, Desembargador, e Ana Joaquina de Sequeira, e por parte da mãe, João Pedro Carvalho, Professo na Ordem de Cristo, Desembargador dos Agravos na Casa da Suplicação, e Inês Rita Xavier da Costa (com Breve de dispensa matrimonial, por serem parentes, 1755).

A sua família foi gravemente atingida pela cegueira. Dos irmãos, o primogénito faleceu quase cego, dois foram operados com êxito a cataratas, ficando com razoável visão, duas das irmãs também cegaram, mas apenas uma delas quis ser operada.

Bacharel em direito pela Universidade de Coimbra, fez a leitura no Desembargo do Paço, com intenção de seguir a magistratura, que efectivamente exerceu, embora por pouco tempo, como juiz de fora na vila do Crato.

Desempenhou vários cargos públicos em Castelo de Vide, entre os quais, como seu pai, o de provedor da Santa Casa da Misericórdia. Testemunham o seu firme carácter alguns episódios da sua vida. Numa das acesas fases das lutas liberais, o brigadeiro António José Doutel, governador da praça de Castelo de Vide e partidário de D. Miguel, determinou que os irmãos da Santa Casa da Misericórdia assistissem às execuções dos liberais, todos de calça branca, mas o Dr. Sequeira Sameiro, como protesto, apresentou-se de calça preta, sendo preso e enviado para a prisão em Elvas. No caminho o soldado encarregado de o conduzir proporcionou-lhe deixá-lo seguir em liberdade. O preso recusou prontamente e advertiu o soldado de que devia obedecer às ordens recebidas, lembrando-lhe os seus deveres. Dias depois, com outros presos era levado de Elvas para Lisboa, sendo, no trajecto, libertados por um destacamento liberal.

Pelas preocupações e afazeres da administração dos seus bens deixou o já referido lugar de juiz de fora no Crato, mas para essa decisão terá concorrido também o abatimento em que andava por causa da situação dos familiares atingidos pela cegueira, porventura ainda apreensivo com a possibilidade de vir a sofrê-la.

Tinha 56 anos quando casou com Helena Isabel de Barros Castelo Branco, sua sobrinha, em cerimónia realizada na Igreja de São João Baptista, em Castelo de Vide, a 13 de Maio de 1848. Helena Isabel, então com 32 anos, era filha de Maria de Guadalupe Juzarte de Sequeira Sameiro, irmã de João Diogo, e de Inácio Cardoso de Barros Castelo Branco Barba Mousinho e Matos, neta paterna de Venceslau Barba Mousinho, Escrivão da Almotaçaria da vila, e de Inês Cândida da Costa, e materna dos já citados Manuel Dionísio Carrilho de Sequeira e de Joana Catarina Juzarte, naturais de Castelo de Vide. O sacramento foi ministrado pelo Padre prior Mateus Joaquim Madeira, sendo testemunhas os irmãos do noivo Francisco Manuel e José Godinho. Os filhos do casal faleceram logo a seguir ao nascimento, para tristeza de todos, e mais uma dor para o Dr. Sequeira Sameiro que não via assim continuidade para tão antiga família e para o importante morgadio que detinha e administrava.

Passados já os sessenta anos, teve a generosa ideia, para ele certamente também gratificante e consoladora, de fundar um asilo para pobres privados do sentido da vista. A Misericórdia adquirira, por permuta de umas casas que possuía na Rua do Marmelo, o valioso imóvel que fora do hospital de S. João de Deus, erguido no rossio da Vila, transferindo para aí o seu hospital. Solicitou então à Misericórdia a cedência de parte das instalações do velho hospital, então assim devolutas, na Rua de Santo Amaro, para ali instalar, provisoriamente, o asilo que projectara. Concedida a cedência requerida, autorizada por provisão régia de 18 de Abril de 1856, iniciaram-se de imediato as necessárias obras de adaptação. E em 28 de Junho de 1863, concluídas as mesmas, é celebrada no consistório da Santa Casa a escritura de empréstimo e posse de parte do referido edifício da Rua de Santo Amaro, outorgada por João Diogo Juzarte de Sequeira e Sameiro e pelo provedor, Padre José António Mimoso e pelos irmãos mesários.

Entretanto, mais um motivo de grande pesar acontecera para o fundador da nascente instituição pois, a 20 de Julho 1862, morrera Helena Isabel, sua mulher, com 46 anos de idade, também ela fundadora do asilo, pois no seu testamento cerrado, de 11 de Janeiro de 1860, deixa ao marido, excluindo alguns legados a familiares e amigos, os bens “para estabelecer o fundo à primeira base do estabelecimento de um asilo para pobres cegos”.

A 20 de Julho de 1863, dia em que se completava um ano da sua viuvez, faz-se, com solenidades religiosas e cerimónias festivas, a inauguração da nova unidade assistencial.

No ano seguinte, em carta de 1 de Março de 1864 o Administrador do Concelho adverte Sequeira Sameiro que a situação do asilo era irregular, por não cumpridas as exigências legais. O caso foi ultrapassado com a firme e lúcida resposta de Sequeira Sameiro, datada de 4 de Março de 1864, em que afirma: “(…) o núcleo do asilo, talvez em tempo fundarei, mas nunca definitivamente antes da minha morte, não está por ora investido de carácter público, não passa de ser uma mera dependência da minha Casa, e tão particular como ela. (…). Os miseráveis aos quais prodigalizo os benefícios, que bem me apraz, reputo-os meus familiares e comensaes, e como taes os dirijo, e governo conforme a minha vontade, embora eles residão numa casa que não hé minha, mas caso della cedido por seu dono, e esta cedencia está legalmente autorisada pelo governo de S. Mg. em Portaria do M. do Reino de Abril de 1856 (…)”.

O processo de criação desta fundação, até ser concluído, legalizado e dotado de sede própria, acarretou para o seu fundador e para quem lhe veio a dar continuidade, dissabores e sucessivas dificuldades, que houve que vencer.

Sentindo-se com pouca saúde, em 7 de Junho de 1865 João Diogo Juzarte Sequeira Sameiro faz o seu testamento, com base no qual funda o Asilo, instituição de índole cristã, sob a invocação de Nossa Senhora da Esperança e assim o denomina. Em 5 de Março desse ano concluíra já a redacção dos estatutos, que viriam a ser aprovados por Decreto de 25 de Outubro de 1866, já não em sua vida.

Com base no seu testamento, funda assim o Asilo de Nossa Senhora da Esperança, particularmente já instituído, legando para esse fim a sua fortuna. Contempla ainda com um legado, naquele extenso documento, a Congregação do Coração de Jesus, a cuja irmandade pertencia, e com variadíssimos outros de diversas espécies (alguns em ouro e em prata), a familiares, amigos e empregados. Institui único e universal herdeiro o seu irmão Frei José Godinho de Sequeira Sameiro, que também nomeia seu testamenteiro. O documento foi reconhecido pelo tabelião, João de Sousa Pinto, na residência do testador, casa que, substancialmente modificada, tem hoje os números 16, 17 e 18 da Praça de D. Pedro V.

Com 72 anos, faleceu em Castelo de Vide a 7 de Agosto de 1865, na casa onde nascera e sempre viveu. Segundo o seu desejo, foi inumado na sepultura do seu irmão Francisco Manuel, no cemitério de Castelo de Vide, sendo mais tarde, numa particular cerimónia, transladados para um mausoléu erguido na Igreja de S. Francisco, do Convento do mesmo nome em Castelo de Vide, que entretanto se constituiu sede do Asylo de Nossa Senhora da Esperança.


Diogo Salema Cordeiro


Ver o testamento de João Diogo Juzarte Sequeira Sameiro aqui.


Bibliografia :
- Estatutos do Asylo dos Cegos instituído na villa de Castello de Vide por João Diogo Juzarte de Sequeira Sameiro natural da mesma villa. Portalegre : Typ. de F. C. Sanches, 1885.

- ALBERTO, Caetano, (Ed.) - O Asylo dos Cegos de Castello de Vide e as Officinas Branco Rodrigues. In O Occidente. Vol. XIX, nº 634, 5 de Agosto de 1896.

- COELHO, João Chrisostomo Ribeiro - Asylo dos Cegos de Castello de Vide, In Archivo Pittoresco, Vol XI. Lisboa : Typ. de Castro&Irmão, 1868, 316-317, 327-328, 343-344.

- MONTEIRO, A. M. do Couto - O Asylo de Nossa Senhora da Esperança de Castelo de Vide para cegos de ambos os sexos - breve exame dos fundamentos da acção pendente contra este importante estabelecimento, e da sua actual situação juridica e administrativa. Lisboa : Typographia de Castro Irmão, 1870.

- MONTEIRO, A. M. do Couto - O Asylo de Nossa Senhora da Esperança de Castello de Vide para Cegos de Ambos os Sexos - Breve Exame dos fundamentos da acção pendente contra este importante estabelecimento, e da sua actual situação juridica e administrativa. Segunda edição, augmentada com dois appendices, Lisboa, 1872.

- PORTELA, Ana Margarida; QUEIROZ, Francisco - Especificidades da Arte Funerária Oitocentista na Região da Serra de S. Mamede. : Fundação da Juventude, 1998.


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